Interessante! Que coisa estranha! Como posso estar aqui? Como posso estar sonhando e sabendo que estou sonhando? Sei que estou sonhando. Posso voar! Como é bonito aqui! E que seres estranhos, aqueles! Não são homens, nem bichos... Movem-se tão rápidos. São belos e horrendos ao mesmo tempo. Agora eles vêem em minha direção! Preciso fugir! Oh! Eis ali um homem. Tem aspecto bom! Talvez possa me socorrer. Ele olha para mim... Parece que está me chamando... Faz sinal para eu ir até ele... Mas como pode estar acontecendo isso comigo? Sei que estou dormindo e sonhando. Tudo isto que está acontecendo comigo é um sonho. Preciso acordar...Mas como? Esqueci -me de como se acorda! Estou ficando com medo. Aqueles bichos, ou melhor, aquelas coisas querem me pegar. Tenho que aproximar-me daquele homem. Será que é mesmo um homem? Está de túnica azul clara. Usa sandálias. Tem um belo bigode negro. Sua cabeleira, um pouco grisalha, cai-lhe sobre os ombros. Seu olhar é firme, poderoso. Em torno de sua cabeça há uma luz rosada. Ele parece brilhar. Parece irradiar uma luz. Aproximo-me dele. Ele faz sinal para eu segui-lo. Ele voa rápido! E eu também. Estamos indo para um bosque. Os seres estranhos, monstruosos, ficaram lá embaixo... Ainda bem! Mas que bosque lindo! Está povoado de seres belos... Crianças, donzelas, duendes, fadas, todos alados... São transparentes, brilhantes, multicoloridos... Leves como plumas. Todos sorriem. E dançam... O homem de túnica azul também sorri para mim. Sigo-o Como é bom voar! Que mundo lindo! Fantástico! Oh! Agora eis ali uma clareira. Há uns homens reunidos, também de túnicas azuis, nos esperando. Parece que vai haver uma reunião. Como são simpáticos! Aquele ali parece o mais velho de todos. Sem dúvida, é o líder. Parece que quer falar comigo. Mas que estranho. Ouço ele falando dentro de mim. É como se eu falasse a mim mesmo, mentalmente. Porém sei que é ele que fala. Diz-me que tem um assunto muito importante para tratar comigo. Um assunto muito sério. Pede-me para eu prestar o máximo de atenção. Diz-me que sou um ser humano, de certa forma, diferente dos outros. Os outros estão presos aos seus corpos. Ele me mostra uma cena. Parece uma tela de cinema. Uma imagem holográfica... Homens dormindo em seus quartos e sobre cada um deles prendendo-se um segundo corpo exatamente igual ao que dorme. Porém, parecem larvas... Seus movimentos são semelhantes aos movimentos de um verme. Estão presos aos corpos físicos por fios prateados. Não aprenderam ainda a usar seu segundo corpo. (Esse que uso agora.) Eu, porém, sou diferente. Posso mover-me a vontade. Subir, descer, mexer com as mãos. Rir, dançar, voar, pensar. Agora o mais velho diz-me que daqui alguns instantes eu despertarei e não me lembrarei de nada disto tudo. Pergunta-me se eu estou disposto a auxiliá-los em seu trabalho. Questiono: que tipo de trabalho? Que fazem eles? Ele responde que todos ali presentes ajudam a humanidade. Lutam por melhorar o mundo. Projetando no ar pensamentos positivos. De amor. De paz. De harmonia. A fim de que os homens mais preparados possam captá-los e tornarem-se melhores do que são. Pergunta-me se eu quero ajudá-los nesse trabalho. Digo-lhe que sim. Gostei deles... Irradiam paz, serenidade, harmonia... Quero ficar eternamente junto deles! Lembram certos filósofos da antiguidade. Certos santos e apóstolos... Mas que devo fazer?, pergunto. Ele responde-me: Escrever coisas úteis, boas, sadias, positivas. O mundo é movido pelas palavras... As palavras, ao caírem no seio da humanidade, são como um vento que desencadeia emoções e sentimentos... E tudo isso se transforma, depois, em ações, gestos, atitudes.. Se são palavras boas, os atos são bons. Se são palavras más, os atos são maus... Tudo gira em torno das palavras! Deve-se escrever por amor, diz ele. Não por ambição ou ganância de lucros! Porém, diz-me sorrindo, como quem não está me julgando, mas apenas fazendo um comentário sem importância, você é muito materialista. Passa a maior parte do tempo cuidando do seu estômago, da sua vaidade pessoal, dos seus interesses financeiros, familiares, de coisas ligadas ao sexo, a satisfação dos desejos... É uma pena, pois você tem talento. É um bom escritor. Escreve boas poesias... Diz-me que eu devo dedicar-me mais a minha arte. Que eu posso ganhar muito com isso. Diz-me que agora vou despertar. Que não me lembrarei de nada do que houve aqui. Oh! Estranho! Estou sendo puxado, sugado. Tudo está ficando escuro. Epa! Que ruído é esse? Ah! É o despertador! São sete horas. Esquisito... Parece que tive um sonho. Porém, não consigo lembrar-me! Preciso levantar-me. Tenho que encontrar-me com meus clientes às oito no escritório. Gostaria de escrever uns contos, uns poemas... Mas infelizmente, agora não posso. Meus clientes me aguardam. Depois vou almoçar com minha secretária. À tarde irei aos bancos negociar empréstimos com meus gerentes. À noite irei com minha esposa a uma reunião social. Detesto essas reuniões! Todos só pensam em beber, fumar, exibir-se, em falar de negócios, de coisas banais, de política... Puxa, terei um dia agitado! Não vai sobrar tempo para mais nada... Mas como eu sinto desejo de escrever! Tenho tantas idéias na cabeça. Estranho. Tenho certeza que sonhei algo interessante. Mas não consigo me lembrar. Não consigo me lembrar...
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Interessante! Que coisa estranha! Como posso estar aqui? Como posso estar sonhando e sabendo que estou sonhando? Sei que estou sonhando. Posso voar! Como é bonito aqui! E que seres estranhos, aqueles! Não são homens, nem bichos... Movem-se tão rápidos. São belos e horrendos ao mesmo tempo. Agora eles vêem em minha direção! Preciso fugir! Oh! Eis ali um homem. Tem aspecto bom! Talvez possa me socorrer. Ele olha para mim... Parece que está me chamando... Faz sinal para eu ir até ele... Mas como pode estar acontecendo isso comigo? Sei que estou dormindo e sonhando. Tudo isto que está acontecendo comigo é um sonho. Preciso acordar...Mas como? Esqueci -me de como se acorda! Estou ficando com medo. Aqueles bichos, ou melhor, aquelas coisas querem me pegar. Tenho que aproximar-me daquele homem. Será que é mesmo um homem? Está de túnica azul clara. Usa sandálias. Tem um belo bigode negro. Sua cabeleira, um pouco grisalha, cai-lhe sobre os ombros. Seu olhar é firme, poderoso. Em torno de sua cabeça há uma luz rosada. Ele parece brilhar. Parece irradiar uma luz. Aproximo-me dele. Ele faz sinal para eu segui-lo. Ele voa rápido! E eu também. Estamos indo para um bosque. Os seres estranhos, monstruosos, ficaram lá embaixo... Ainda bem! Mas que bosque lindo! Está povoado de seres belos... Crianças, donzelas, duendes, fadas, todos alados... São transparentes, brilhantes, multicoloridos... Leves como plumas. Todos sorriem. E dançam... O homem de túnica azul também sorri para mim. Sigo-o Como é bom voar! Que mundo lindo! Fantástico! Oh! Agora eis ali uma clareira. Há uns homens reunidos, também de túnicas azuis, nos esperando. Parece que vai haver uma reunião. Como são simpáticos! Aquele ali parece o mais velho de todos. Sem dúvida, é o líder. Parece que quer falar comigo. Mas que estranho. Ouço ele falando dentro de mim. É como se eu falasse a mim mesmo, mentalmente. Porém sei que é ele que fala. Diz-me que tem um assunto muito importante para tratar comigo. Um assunto muito sério. Pede-me para eu prestar o máximo de atenção. Diz-me que sou um ser humano, de certa forma, diferente dos outros. Os outros estão presos aos seus corpos. Ele me mostra uma cena. Parece uma tela de cinema. Uma imagem holográfica... Homens dormindo em seus quartos e sobre cada um deles prendendo-se um segundo corpo exatamente igual ao que dorme. Porém, parecem larvas... Seus movimentos são semelhantes aos movimentos de um verme. Estão presos aos corpos físicos por fios prateados. Não aprenderam ainda a usar seu segundo corpo. (Esse que uso agora.) Eu, porém, sou diferente. Posso mover-me a vontade. Subir, descer, mexer com as mãos. Rir, dançar, voar, pensar. Agora o mais velho diz-me que daqui alguns instantes eu despertarei e não me lembrarei de nada disto tudo. Pergunta-me se eu estou disposto a auxiliá-los em seu trabalho. Questiono: que tipo de trabalho? Que fazem eles? Ele responde que todos ali presentes ajudam a humanidade. Lutam por melhorar o mundo. Projetando no ar pensamentos positivos. De amor. De paz. De harmonia. A fim de que os homens mais preparados possam captá-los e tornarem-se melhores do que são. Pergunta-me se eu quero ajudá-los nesse trabalho. Digo-lhe que sim. Gostei deles... Irradiam paz, serenidade, harmonia... Quero ficar eternamente junto deles! Lembram certos filósofos da antiguidade. Certos santos e apóstolos... Mas que devo fazer?, pergunto. Ele responde-me: Escrever coisas úteis, boas, sadias, positivas. O mundo é movido pelas palavras... As palavras, ao caírem no seio da humanidade, são como um vento que desencadeia emoções e sentimentos... E tudo isso se transforma, depois, em ações, gestos, atitudes.. Se são palavras boas, os atos são bons. Se são palavras más, os atos são maus... Tudo gira em torno das palavras! Deve-se escrever por amor, diz ele. Não por ambição ou ganância de lucros! Porém, diz-me sorrindo, como quem não está me julgando, mas apenas fazendo um comentário sem importância, você é muito materialista. Passa a maior parte do tempo cuidando do seu estômago, da sua vaidade pessoal, dos seus interesses financeiros, familiares, de coisas ligadas ao sexo, a satisfação dos desejos... É uma pena, pois você tem talento. É um bom escritor. Escreve boas poesias... Diz-me que eu devo dedicar-me mais a minha arte. Que eu posso ganhar muito com isso. Diz-me que agora vou despertar. Que não me lembrarei de nada do que houve aqui. Oh! Estranho! Estou sendo puxado, sugado. Tudo está ficando escuro. Epa! Que ruído é esse? Ah! É o despertador! São sete horas. Esquisito... Parece que tive um sonho. Porém, não consigo lembrar-me! Preciso levantar-me. Tenho que encontrar-me com meus clientes às oito no escritório. Gostaria de escrever uns contos, uns poemas... Mas infelizmente, agora não posso. Meus clientes me aguardam. Depois vou almoçar com minha secretária. À tarde irei aos bancos negociar empréstimos com meus gerentes. À noite irei com minha esposa a uma reunião social. Detesto essas reuniões! Todos só pensam em beber, fumar, exibir-se, em falar de negócios, de coisas banais, de política... Puxa, terei um dia agitado! Não vai sobrar tempo para mais nada... Mas como eu sinto desejo de escrever! Tenho tantas idéias na cabeça. Estranho. Tenho certeza que sonhei algo interessante. Mas não consigo me lembrar. Não consigo me lembrar...
DEUSES ADORMECIDOS
sexta-feira, 18 de maio de 2007
SONHO
Tudo começou naquela tarde de fevereiro. Era sábado. Eu havia adormecido depois do almoço, como costumo fazer de vez em quando. Parecia ser um sono comum, como qualquer outro, porém, o sonho que tive é que foi diferente... Nítido, claro, vivo, colorido, como se fosse real. Sonhei que era deus criando um universo! De minha mente brotavam galáxias, sóis, planetas, luas, cometas, e eu era o poder que sustentava, movia, iluminava, organizava e nutria esses mundos. Antes de continuar essa narrativa, devo esclarecer um detalhe. Eu havia ingressado há uns dois anos numa seita secreta, a qual não posso, no momento, revelar o nome. Para fazer parte do círculo dos iniciados tive que prestar um juramento de nunca revelar o nome dessa seita. Ali me ensinaram exercícios esotéricos que eu vinha praticando religiosamente todos os dias, já fazia mais de um ano. Os exercícios eram feitos as seis horas da manhã, num quarto fechado, e consistiam em 15 minutos de relaxamento corporal e o restante em concentrações, visualizações, meditações e afirmações em voz alta, mas não muito alta para não ser ouvidas pelos visinhos. Eram palavras especiais... Mágicas, secretas... E eu não podia comentar com ninguém sobre esses exercícios... E foi depois disso que tive o tal sonho. Quando acordei senti-me um tanto agitado, nervoso, com formigamentos pelo corpo todo... Parecia que algo estranho me ocorrera, mas não sabia exatamente o que. Levantei-me e fui ao banheiro. Lavei o rosto e fiquei olhando a água escorrendo pela torneira. Nesse momento vi como a água era linda... A água estava diferente! Parecia viva, luminosa, inteligente. Pela primeira vez ocorreu-me esse fenômeno. A água já não era mais a mesma água de antes! Vi como era alegre, vital, preciosa. Fiquei parado, como em êxtase, observando a beleza daquela água tão pura. Pensei comigo: já imaginou se essa água virasse sangue? Como no filme dos Dez Mandamentos, em que numa das pragas de Jeová toda a água do Egito virou sangue? Para castigo do faraó e do seu povo? E qual não foi o meu espanto quando aquela água cristalina da torneira ficou vermelha como suco de beterraba! Fiquei muito assustado. Meti a mão na água e vi que minha mão ficou rubra. Belisquei-me para ver se não estava sonhando. Estava mais acordado que nunca. Comecei a pensar. Será que fui eu que fiz a água virar sangue? Mas como pode ser isto? Desejei que a água voltasse a ser água de novo e a água voltou a ser pura. Saí para a rua ainda meio assustado, meio incrédulo. Queria atravessar a avenida mas não podia por causa dos carros. Desejei que eles parassem e todos pararam ao mesmo tempo. Atravessei a avenida e quis que todos os carros continuassem seu tráfego normal. E todos voltaram a mover-se, como antes. Fiquei muito perturbado. Por estranho que possa parecer eu me transformara num deus! Tudo obedecia minha vontade. Fiquei com medo e resolvi tomar muito cuidado com meus pensamentos e desejos. Qualquer descuido poderia ser fatal... Já pensou se eu desejasse mal a alguém? Esse alguém sofreria todas as conseqüências dos meus desejos! Naquele resto de dia mantive meus pensamentos voltados para as coisas abstratas... Conceitos, paradigmas, números, figuras geométricas... Tudo por receio de causar algum mal irremediável. Nesse tempo eu era pobre. Vivia só, num quarto alugado no subúrbio do Rio de Janeiro, e tinha que dar duro para arrumar uns míseros trocados... Não tinha dinheiro nem para comprar os livros que precisava para meus estudos esotéricos. Chegou a noite e eu já estava cansado. Fui dormir e antes de cair no sono desejei ser rico. No outro dia acordei com o barulho de alguém batendo à porta. Era um advogado que veio avisar-me que eu era herdeiro de uma grande fortuna. Alguns meses depois me tornara um milionário! Tinha tudo. Mansões, uma na Barra da Tijuca, um dos lugares mais caros do Rio de Janeiro, iate, muitos carros de luxo, jatinho, helicóptero e até um navio... Era dono de uma poderosa indústria de informática internacional e milhares de pessoas me respeitavam, me admiravam, me obedeciam. Porém, eu não estava satisfeito! Pelo contrário. Sentia-me assustado, amedrontado, quase em pânico. Tudo o que eu pensava ou desejava, acontecia! Será que eu tinha ficado louco? Ou tudo aquilo não passava de um pesadelo? Fruto de minha imaginação febril? As noites eu não dormia direito. Acordava coberto de suor... Perdi o encanto da vida. Alguma coisa de anormal havia acontecido comigo. Eu era um homem poderoso, mas cheio de preocupações, aflições, medos... Já não era mais o mesmo de outrora. Antes, quando era pobre, sentia-me feliz, cheio de esperanças em dias melhores, cheio de sonhos... Agora, minha vida virara um purgatório. Resolvi, então, ir dormir para ver se quando acordasse tudo voltava ao normal. Mas não voltou! Acordei molhado de suor. O calor do Rio era sufocante... Eu não gostava de ar condicionado. Sem querer desejei que o tempo mudasse, que fizesse frio. De repente veio um temporal. Trovões espocando no céu. Raios cortando a escuridão. A chuva caindo e um vento forte e frio entrando pelas janelas, balançando as cortinas e tumultuando tudo! Comecei a chorar e de repente tive uma idéia. Se é que meus desejos se realizavam com tanta facilidade, resolvi adormecer e acordar como era outrora. Pobre, sem poder, sem riqueza, mas feliz. Foi então que uma sonolência tomou conta de mim. Adormeci. Ao acordar, tudo tinha voltado ao que era antes, há uns dois anos atrás. Agora eu estava lendo uma revista velha e um anúncio dizia: “Você é pobre, sem recursos? Sofre doenças e dificuldades? Venha conhecer nosso “Círculo Mágico” e torne-se um iniciado, capaz de comandar o vento, a água, o fogo e a terra! Torne-se um homem poderoso e realize todos os seus desejos! “ Caramba, é exatamente isto que eu estou precisando! Vou já ingressar-me nessa seita! Quem sabe consigo tirar o pé da miséria!
Abel Fernandes
terça-feira, 15 de maio de 2007
NATUREZA
folhas umidades
lagartas comendo
comendo comendo
crisálida grudada
em teto de folha
sonha
asas multicores
besouro
cor de céu
brasa luar alegria
estrela
anda por estrada
feita de cipó
vento a cantar na galharada
gota de orvalho
pérola translúcida
tremula
refletindo
o ouro da tarde
segunda-feira, 14 de maio de 2007
NATUREZA PURA
na floresta
a fada
mãos
de aranhas
estranhas
a alma
viaja
na melodia
a poesia
é feita
de cristais azuis
e gotas de noites
enluaradas
Clique em cima da foto para ampliá-la
Foto de Abel Fernandes - Flor silvestre - Porto Velho - Brasil
MEU MUNDO ATUAL
meu mundo é feito
de uma contínua luta interior.
De chuva caindo
e brilhos no asfalto molhado...
De paciência, trabalho e suor...
De calma, serenidade e relaxamento!
De banho gelado no calor
e morno, quase frio, no inverno.
É feito de arroz, feijão, salada e ovos...
E de garçonete bonita, de olhos verdes...
É feito de sair à rua, andando ao sol,
olhando a vida sem hora pra chegar
nem lugar pra ir...
Meu mundo feito de trovoada
e chuva grossa caindo,
e eu aqui dentro, lendo um livro de magia.
Meu mundo feito de silêncio
e de acordar no meio da noite,
ouvir músicas no rádio
e depois escrever um poema.
Meu mundo é feito da estranha mistura
de sofrimento e gozo!
Meu mundo é feito de simplesmente viver
neste século confuso
no meio da fumaça de chaminés.
Meu mundo é o meu corpo
e o mistério que pulsa dentro dele.
Meu mundo é feito de ginástica, de suor,
e de sair por aí afora em busca de dinheiro.
Meu mundo, enfim, é feito de ser eu mesmo.
quarta-feira, 9 de maio de 2007
O POETA
Poeta é aquele
que bebe as maravilhas passageiras
do mundo
na taça dos cinco sentidos,
depois,
sozinho e em silêncio,
transporta-as para o papel
para eternizá-las...
TARDE CALMA
muito calma...
Estou lembrando de um lugar
de paz.
Estou sentado na relva.
Contemplo um lago tranqüilo.
A superfície do lago
é um espêlho.
Reflete árvores, céus, nuvens,
pássaros...
Reflete palácios, dragões,
odaliscas dançantes
sobre tapetes mágicos flutuantes...
Cavalos marinhos azuis...
Taças, bengalas,
chícaras de porcelana de Sevres.
Reflete meus sonhos, anceios,
saudades,
infância, mocidades,
namoradas, amantes,
dias de sol,
tardes de sábados,
manhãs ensolaradas de domingos
em feiras de antiquários...
Rodas-gigantes, praças, sorvetes.
Jóias, pulseiras, brilhantes,
ondas na praia,
luas cheias,
castelos de areia,
sereias...
Crianças brincando,
o afogado voando,
guardas-sóis vermelhos,
verdes, azuis, listados, floridos...
Músicas ciganas,
reis tombados, caidos,
havaianas,
cartas de baralhos,
cartolas, ladrilhos, azulejos,
assoalhos,
um copo de limonada gelada,
madrugada,
árvores que passam,
dançam,
baião-de-dois com suco de açaí,
ônibus Central-Andaraí,
um beijo apaixonado no meio da noite,
um sonho, o vento, a chuva,
a viagem,
a despedida,
o despertar...
O ÔNIBUS
O ônibus carrega mundos.
Lá fora, cidades passam...
O ônibus leva malas
cheia de ontens
e amanhãs...
Algumas adormeceram.
Outras conversam entre si.
Dentro do ônibus
há mais de novecentos anos
sentados nos bancos
confortàvelmente.
Olhos colados no horizonte.
É a ânsia da chegada
a lugar nenhum...
O ônibus, casa que roda.
Olhos fitos em janelas de gelo.
Pensamentos verdes.
Folhas tremulam,
mãos dando adeus aos que passam.
As casas espiam imóveis...
Nas janelas
olhos se fartam de ver/de.
O rio distante
serpente de prata
a dormir em leito de esmeralda.
Nuvens andarilhas
contemplam pradarias
e sonham futuras chuvas.
O asfalto: linguagem interminável
cinzenta e cálida
lambe rodas indecifráveis...
SP 10 02 2005
segunda-feira, 7 de maio de 2007
NADA MAIS BELO...
Nada mais belo
do que ser pássaro-nuvem
em contraste com azuis infinitos
de madrugadas amanhecidas
em nossos peitos de flor
que ainda procura o seu
único ramo de eternidade...
Nada mais belo do que ser asas
que um arcanjo usou
em seu nítido vôo
de estrela embevecida...
Nada mais perfeito
do que o céu
constelado de estrelas verdes
que não são senão folhas luminosas
ligadas em ramos secos
de eternidade
Nada mais doce do que acordar
e ver que o sonho não é, felizmente,
a realidade
e que a vida, o vento,
o mar e os pássaros
ainda podem ser transformados
em poesia,
e que a poesia ainda pode ser projetada
na tela da vida
sem, contudo, perder a sua inocência
de menino que se imagina
pássaro no mundo
e sai a voar como beija-flor
em busca do néctar sagrado
A VIDA!
NAS ASAS DO SOL
Nas asas do sol
a tarde espreguiça
langüidamente.
Árvores conversam em silêncio
com velhinhos aposentados
e crianças ensaiam
seus amanhãs
felizes
(ou infelizes?)
De carro eu viajo
para o futuro...
Cada janela
é um calidoscópio
onde contemplo
a vida que passa...
A tarde é de âmbar
com pedrinhas
multicores.
Eu, dentro da tarde,
sou como um deus
em seu palácio de ouro.
A eternidade sussurra-me
palavras
de eterna mocidade...
A tarde é uma taça de luz
onde eu bebo
juventude!
Sp 2005
domingo, 6 de maio de 2007
Ontem eu estava na sacada
Do meu apartamento
E via um mago
Sentado num trono...
Era um pouco gordo.
Usava roupas de seda coloridas.
Tinha imensos bigodes brancos.
Um olhar poderoso
E um sorriso nos lábios.
Na cabeça,
Um turbante multicor.
Nos pés
Compridos sapatos com bicos.
Parecia turco,
Ou árabe.
Às vezes vejo imagens interessantes.
Na verdade isso tudo
Me deixa muito feliz.
Abel Fernandes
O QUE SE PODE FAZER APÓS OS SESSENTA ANOS... Aos 60 anos... Thomas Jefferson compra a Louisiana, pagando à França 27 milhões de dólares por uma área de quase 1.300 quilômetros quadrados que vai do rio Mississippi até as montanhas rochosas — ou seja, cerca de 5 centavos de dólar por acre. Alfred Hitchcock dirige Psicose.Daniel Carter Beard funda o grupo de escoteiros dos Estados Unidos. Irma Rombauer, uma dona de casa de St. Louis, escreve o fenômeno editorial Os prazeres da cozinha. George Papanicolaou recebe o reconhecimento da categoria médica pela eficácia de seu exame na detecção prematura do câncer cervical, possibilitando salvar a vida de muitas mulheres. General William Tecumseh Sherman, herói da Guerra Civil, pronuncia a simples mas dura expressão: “A guerra é o inferno” Hildegard de Bingen, religiosa alemã do s lo XII, completa o seu importante trabalho, Ph5 Livro simplificado de Medicina —, o qual explica o valor medicinal de centenas de plantas e ervas. W C. Fields é a estrela da clássica comédia Little Chickadee. O dr. Hattie Alexander descobre a cura para a meningite bacteriana. Groucho Marx estréia como apresentador no programa de testes humorísticos You Bet Your Life. Aos 61 anos... Harry Truman decide jogar a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. Acabou com a guerra mas matou milhões de japoneses!... Foi, sem dúvida, um dos mais polêmicos atos do mundo, considerado por muitos um ato de coragem e ao mesmo tempo um ato de extrema covardia! Somente Deus poderá julgá-lo com justiça! Phineas T Barnum soma seu show ao dejames A. Bailey’s, para criar o mundialmente famoso circo Barnum & Bailey, chamado de “O maior espetáculo da Terra”. Woodrow Wilson anuncia seu plano de 14 pontos para acabar com a Primeira Guerra Mundial. Eleanor Roosevelt é a comandante da comissão de direitos humanos da ONU e ajuda a escrever a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Henry James publica seu livro The Golden Bowl. David Ben-Gurion torna-se o primeiro primeiro-ministro de Israel. Jeannette Rankin, congressista republicana de Montana, torna-se o único membro do Congresso americano a votar contra a declaração de guerra ao Japão, após o ataque a Peari Harbour. Annie Oakley, a mais famosa atiradora norte-americana, estabelece um difícil recorde quebrando 98 em 100 pombas de cerâmica, numa apresentação num clube de armas da Carolina do Norte. Aos 62 anos Agatha Christie escreve A ratoeira, que se tornarará a peça com maior tempo em cartaz no mundo todo. Douglas MacArthur foge das Filipinas durante a Segunda Guerra Mundial, mas afirma: “Vou voltar” — e volta. Alec Guinness aparece como Bem Benobi em Guerra nas estrelas. Louis Pasteur aplica em um paciente a primeira injeção contra a raiva. Diana Vreeland aceita a editoria da revista Vogue, e rapidamente se transforma na ditadora do que é chique. Cari Magee inventa o parquímetro. Aos 63 anos... Ferdinand de Lesseps, engenheiro francês, completa o trabalho do canal de Suez.Arceli Keh, da Califórnia, dá à luz; ela é uma das mulheres mais velhas à dar a luz de que se tem conhecimento. O presidente Franklin D. Roosevelt comparece à Conferência de Yalta, na Criméia, para decidir, juntamente com Churchill e Stalin, o desfecho da Segunda Guerra Mundial. Hugh Hefner desiste da vida de solteiro e casa-se novamente com a Miss Janeiro de 1988, uma jovem de 26 anos de idade. Voltaire escreve seu trabalho mais popular, o satírico Cândido.Francis Galton, geneticista inglês, mostra que duas pessoas não têm a mesma impressão digital, revolucionando a detecção dos crimes. O dr. Charles Menninger, juntamente com seus filhos, inaugura o que se tornará a mundialmente famosa Menninger Clinic em Topeka, Kansas, a qual auxilia no modo como os doentes mentais são tratados. Rembrandt van Rijn pinta sua obra-prima O retorno do filho pródigo. Leopold Stokowski, maestro, casa com a milionária Gloria Vanderbilt, de 21 anos de idade. Alfred Hitchcock dirige Os pássaros.Aos 64 anos...Weller Noble, da Califórnia, faz 64 pontos num clube de golfe de Oakland — o primeiro jogador de golfe a pontuar sua própria idade. Louis Armstrong grava Helio, Dolly. John Napier, matemático escocês e pai do ponto decimal, introduz no mundo da Matemática a sua nova invenção, o logaritmo. Aos 65 anos... George Cukor dirige My Fair Lady. Elizabeth Hazen anuncia a descoberta que fez em parceria com Rachel Brown, do nistatin, um fungicida seguro que pode ser usado no tratamentodoenças como verminoses, micoses e muito mais... Andrew Carnegie vende a Carnegie Steel para U.S. Steel por milhares de milhões de dólares e dá início ao seu legado: a filantropia. Winston Churchili torna-se primeiro..ministro da Inglaterra. C. Everett Koop, secretário da Saúde dos Estados Unidos, apresenta um relatóio apontando o fumo como a causa de morte mais fácil de se prevenir. Mary Leakey descobre um fóssil de três milhões meio de anos na Tanzânia. Henry Moore esculpe a famosa figura reclinante que fica exposta no Lincoln Center de Nova York.Aos 66 anos... O secretário de Estado, George Marshall, anuncia seu plano de recuperação pós-guerra — o Plano Marshall, como ficou conhecido, possibilitou a recuperação da Europa destruída pela guerra. Michelangelo finaliza o afresco Último julgamento, na Capela Sistina. Carne Fuld é co-fundadora do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, a prestigiosa entidade onde Einstein e outros irão trabalhar e elaborar suas teorias. Henry Cavendish calcula a constante gravitacional, possibilitando-se calcular a massa da Terra. Nikos Kazantzakis escreve Zorba, o grego.Maggie Kuhn funda o Gray Panthers (uma organização para defender os direitos dos mais idosos). Aos 67 anos... Louise Boyd voa sobre o Pólo Norte, a primeira mulher a realizar tal façanha. John Rock, ginecologista, começa extensos testes da pílula de controle da natalidade. Ésquilo escreve sua obra-prima, A trilogia de Orestes. George Bernard Shaw escreve Santa Joana. Ernest Vincent Wright escreve Gadsby, um romance que não usa a letra “e”. (continua) Aos 68 anos... Clifford Batt, da Austrália, atravessa o canal da Mancha à nado. Lillian Carter — mãe do presidente Jimmy Carter — alista-se em um grupo de paz e passa dois anos trabalhando como enfermeira em Bombaim, na Índia. Clodion, notável escultor francês, começa a trabalhar na ornamentação do Arco do Triunfo, em Paris. Henry Miller, banido de seu país por 27 anos, finalmente aproveita a publicação nos Estados Unidos de sua obra Trópico de Câncer, um dos maiores sucessos editoriais do mundo. Lionel Barrymore aparece como o velho Potter em A vida é maravilhosa. Giotto de Bondone começa a trabalhar no famoso Campanile, em Florença. Francisco José de Goya y Lucientes - Goya para a maioria — pinta o seu famoso Três de maio de 1808, o fuzilamento dos defensores de Madri. Victor Hugo retorna à França, depois de 19 anos de exílio político. Edna Ernestine Kramer Lassar, matemática e professora, publica seu trabalho mais importante, A natureza e crescimento da matemática moderna. Aos 69 anos A. C. Bhaktivedanta funda a Sociedade Internacional para a Consciência Krishna - Hare Krishna.Madre Teresa ganha o Prêmio Nobel da Paz. Francis Chichester navega solitário através do oceano Atlântico — 6.400 quilômetros em 22 dias. Boutros Boutros-Ghali é nomeado secretário- geral das Nações Unidas. Richard Wagner compõe sua ópera Parsifal. Laurence Olivier faz sua melhor representação no filme Maratona da morte, para desapontamento de todos os dentistas. Noah Webster publica An American Dicti of the English Language, no qual ele trabalha anos e que se tornaria um dos maiores best-s de todos os tempos. Maurice Chevalier canta Thank Heaven for Girts, no filme Gigi. Linus Pauling afirma que a Vitamina C, em altas doses, pode prevenir a gripe e o resfriado — indicação que desafia muito da sabedoria existente. Donato di Niccolà di Betto Bardi — mais conhecido como Donateilo — completa a magnífica escultura em madeira pintada de Maria Madalena. Brigham Young vê o nascimento de seu qüinquagésimo sexto (56) filho, o último... Aos 70 anos Sócrates é condenado à morte por ter “corrompido” a mente dos jovens atenienses.Golda Meir é eleita primeira-ministra de Israel. Nicolau Copérnico publica, após 30 anos de trabalho, De revolutionibus coelestium, em que afirma que o Sol, e não a Terra, o centro do cosmo, princípio que deu nascimento à astronomia moderna. O dr. William Worrall Mayo funda sua famosa clínica médica.E. B. White escreve o clássico infantil The Trumpet ofthe Swan. Marguerite Duras escreve O amante. Shigechiyo Izumo fuma pela primeira vez. (Ele irá viver até os 120 anos.) (Se não tivesse fumado, talvez vivesse até os 140 anos! Rs* - nota do redator) Elizabeth Gurley Flynn torna-se dirigente do Partido Comunista dos Estados Unidos, a primeira mulher a exercer esse cargo. Somerset Maugham escreve O fio da navalha. Aos 71 anos... Coco Chanel introduz o corte Chanel. Nelson Mandela é libertado de uma prisão na África do Sul, depois de passar 27 anos encarcerado. Joe Sweeney torna-se membro da galeria dos jogadores de tênis do Saiem State Coliege — Massachusetts. Winston Churchill cria a expressão “Cortina de Ferro” Buckminster Fulier constrói o maior domo geodésico para o pavilhão dos Estados Unidos, na Expo 67, em Montreal. John Houseman ganha o Oscar de melhor ator coadjuvante, pelo seu papel de um professor de direito em O homem que eu escolhi. Aurelius Augustinus — filósofo cristão, mais tarde conhecido como Santo Agostinho — conclui sua obra A cidade de Deus.Eurípides escreve sua peça Electra. (continua) Trechos extraídos do livro “Guia das Idades – Quem faz o que de um a cem anos” de autoria de Andrew Postman.
O HOMEM E A FLOR
O homem é flor que fala,
Pensa, sente e exala
Seu cheiro, seu olor...
Sua dor ou seu amor...
A mulher é árvore evoluída
Andante no jardim da vida...
Há homens e mulheres,
Que são como botões fechados
Em si mesmos, enclausurados...
Mas há os que já estão abertos...
Soltos e libertos!
(Alguns, liberados...)
Há flores também nos desertos...
Em lodos, lamas,
Estrumes,
Mas mesmo assim, algumas
Exalam doces perfumes...
Homens: plantas misteriosas...
Em alguns há belas rosas!
Noutros,
Apenas espinhos...
A flor-homem tem
Um destino fatal
De gerar em si
Sementes do Bem
Ou do mal...
Mas as sementes juntadas
Em seu interior
Com amor,
E hermeticamente guardadas
Terão um destino
Especial!
Delas há de nascer
Um misterioso fruto
De algo impoluto!
Um corpo espiritual
E imortal!
Os três poemas a seguir são produtos literário-artísticos de experiências vividas por mim em três ocasiões em que bebi o misterioso chá da Amazônia, chamado Hoasca. Esse chá é comprovadamente inofensivo a saúde (já foram feitos diversos estudos por médicos e psicólogos competentes supervisionados por governos de vários países, inclusive dos Estados Unidos e até de alguns países europeus, cujos laudos conclusivos afirmam ser essa bebida misteriosa altamente medicinal e terapêutica com efeitos psíquicos benéficos à saúde geral do indivíduo, daí ela ser totalmente liberada pela lei nos rituais religiosos de algumas seitas de origem sul-americanas) e se a bebermos com boas intenções, para estarmos mais próximos do nosso Criador, ou então para estudos, pesquisas e limpeza orgânica e psíquica, sem medo - e naturalmente supervisionados por pessoas experientes nesse assunto - esse chá só nos faz bem!, faz-nos recordarmos-nos de coisas que havíamos esquecido e além do mais limpa nossos sentidos, principalmente os olhos e os ouvidos, inclusive desperta e abre outros órgãos de percepção internos que estão adormecidos na maioria das pessoas e também faz surgir em nós intenso amor pela Natureza! Faz-nos amar as plantas, as árvores e mostra-nos de forma inquestionável que elas são seres vivos e têm sentimentos, como nós, embora não consigam expressá-los instantaneamente como os animais e os seres humanos o fazem, mas expressam-nos depois de algum tempo produzindo flores maravilhosas e até frutos mais doces que o mel! Uma planta pode retribuir o carinho e a atenção dados a elas tornando-se mais bonita e viçosa para alegria de nossos olhos, paladar e olfato! E agora passemos aos três poemas. MIRAÇÃO I Naquela noite plena de magia Eu vi os fios de luz que a vida tecia percorrendo minhas veias e artérias! Eram fios de luz como finos arcos-íris vibrando e fluindo dentro de mim... Eram de todas as cores. Alguns eram azuis cor de olhos, cor de céu, cor de anil, cor de água límpida de piscina, cor de lágrimas de menina... Cor de anjos, de estrelas... Eram também vermelhos Como olhos de gato na noite! Como brasas, Como rubis, Como pétalas de cravo... E também havia fios amarelos, cor de ouro, de gira-sol, cor de raios de sol, cor da alegria... Alguns eram verdes, brilhantes, róseos, alaranjados, outros: lilases, violetas... Eles estavam em mim, no meu calor, no meu interior e fluíam como relâmpagos e a sensação que eu sentia era de gozo, êxtase e agonia... Parecia que eu estava morrendo e renascia... Aqueles feixes de fios velozes corriam em minhas artérias como serpentes elétricas e foram até meu cérebro e aí o universo explodiu em cores deslumbrantes! E eu comecei a esticar-me todo... Parecia que eu era feito de pasta de vidro quente, multicolorido, e de repente virei um pássaro! Um pássaro poético, mágico, estranhamente diferente... Minhas penas eram multicores, de todos os matizes e em cada uma havia um olho... Enfim, naquele momento mágico inexplicavelmente, virei um lindo pássaro surrealista! Como se houvesse saído da tela de um Grande e Mágico Artista! Eu era muitos olhos de todas as cores em forma de pássaro que deslizava planava num mundo estranhamente azul muito lindo, lindo, lindo, lindo! Mas esse mundo não era só azul. Ele tinha também outras cores. Cores que eu nunca vi aqui na Terra. Cores que me acalmavam, me enchiam de uma felicidade impossível de relatar... Que mundo é esse meu Deus? Eu só sei que ali havia juventude, muito vigor e muita saúde... E tudo isso estava (e ainda está) em mim! No meu íntimo. Bem no fundo de minha alma! Será que eu entrei no Céu por um momento? MIRAÇÃO II Lembro-me De estar suspenso em algum lugar indescritível. E a contemplar, em cima de mim, como num céu, muitas pedras preciosas! Pedras lindíssimas! Via-as flutuando, muito belas, gigantescas. Límpidas e cristalinas como os olhos de Jesus Menino... Eram transparentes, lapidadas e eu via-as girando lentamente e dentro de cada uma havia luz! Eram lindas, lindas, lindas. Muito lindas! Algumas eram amarelas, Cor de âmbar, de laranja... De turmalina! Outras eram amarelo ouro, amarelo-nápolis... Enfim, muitos tons de amarelo... E também havia vermelhas como fogo, como lábios de princesa, como cerejas e eram pedras maravilhosas... Eram de todos os formatos: redondas, ovais, trapezoidais, Outras em forma de coração, oitavadas, “adiamantizadas”... Eram límpidas, luminosas, Lindas e formosas... Desfilavam diante dos meus olhos fascinados e extasiados... De repente me dei conta que aquelas pedras estavam incrustadas em jóias... Jóias semelhantes a ouro e prata. Finos trançados metálicos brilhantes e polidos... Eram guirlandas, cordões, filigranas, rendas feitas com primor e arte. Tinham formas de flores geometricamente harmoniosas... Eu observava essas jóias com grande admiração. Aí percebi que elas estavam todas ligadas umas as outras... Como se fossem uma rede. Uma rede imensa que se estendia indefinidamente. A idéia de rede me assustou. Estaria eu caindo numa armadilha? Recuei como um peixe assustado... Mas a beleza das jóias me fascinava e enfeitiçava. Voltei a contemplá-las e então me dei conta que por trás daquelas jóias havia uma pele de gente... Uma pele lisa, sedosa, de cor morena clara... Fiquei intrigado, perplexo, e tornei a recuar... E foi aí que eu vi, com espanto e admiração que todas aquelas jóias eram as roupagens de uma mulher... Uma mulher linda! Seu rosto sorridente brilhava muito... Tinha em sua cabeça um diadema de brilhantes ou uma coroa magnífica. Era, sem dúvida, uma rainha! Que rainha é essa, meu Deus? Que rainha é essa? MIRAÇÃO III Ah! Que noite magnífica aquela! Primeiro eu vi as cores. Cores de todas as cores... Parecia “revelion” em Copacabana!... Eram milhões de vaga-lumes... Estrelas cadentes... Cometas resplandecentes... Fios brilhantes, multicores... Milhares de fogueiras acesas, estalando fagulhas avermelhadas, alaranjadas... Riscos de luz, centelhas... E balões como em noite de São João... Ah!... Como era belo! O que eu via Deitado na rede De olhos fechados... Depois eu explodi! Virei mil fragmentos! Mas logo me juntei de novo E fui parar No mundo da Geometria... Nesse mundo Tudo era geométrico. Cada coisa, cada objeto, Cada nuvem no céu, Cada planta, Cada ser, Tudo perfeitamente geométrico... E tudo era colorido E iluminado... Havia linhas brilhantes De todas as cores Tão retas que chegava a doer os olhos. E também havia as curvas E as quebradas. Tudo perfeito. Matematicamente perfeito. O plano era tão plano Que dava agonia de ver... E o redondo era tão redondamente redondo E o esférico tão esfericamente esférico Que dava vontade de chorar! Tudo lindo, lindo, lindo! Lindo! Nesse mundo Não havia possibilidades De erros... Nenhum defeito! Nenhuma falha... Se eu ficasse muito tempo ali Tornaria-me um homem perfeito! Um santo! Mas não consegui ficar Mais do que alguns minutos ali! Aquela perfeição toda Me assustava... Mas o que mais me intrigava É que eu via Umas figuras geométricas Inéditas... Na Terra não havia nada igual! Eram tão simples, Tão singelas... Mas nunca as vi no mundo. Por incrível que pareça Nunca no mundo Alguém as inventou. Estão lá. Um dia serão inventadas aqui. Por algum geômetra Ou matemático. E quem as trouxer Daquele mundo Sem dúvida alguma Ficará famoso... Ensaiei desenhá-las Num papel Mas não consegui... Sei que eram muito simples Mas não consigo lembrar-me De como eram... Será que tornarei a entrar Nesse mundo Algum dia? Abel Fernandes