SONHO
Tudo começou naquela tarde de fevereiro. Era sábado. Eu havia adormecido depois do almoço, como costumo fazer de vez em quando. Parecia ser um sono comum, como qualquer outro, porém, o sonho que tive é que foi diferente... Nítido, claro, vivo, colorido, como se fosse real. Sonhei que era deus criando um universo! De minha mente brotavam galáxias, sóis, planetas, luas, cometas, e eu era o poder que sustentava, movia, iluminava, organizava e nutria esses mundos. Antes de continuar essa narrativa, devo esclarecer um detalhe. Eu havia ingressado há uns dois anos numa seita secreta, a qual não posso, no momento, revelar o nome. Para fazer parte do círculo dos iniciados tive que prestar um juramento de nunca revelar o nome dessa seita. Ali me ensinaram exercícios esotéricos que eu vinha praticando religiosamente todos os dias, já fazia mais de um ano. Os exercícios eram feitos as seis horas da manhã, num quarto fechado, e consistiam em 15 minutos de relaxamento corporal e o restante em concentrações, visualizações, meditações e afirmações em voz alta, mas não muito alta para não ser ouvidas pelos visinhos. Eram palavras especiais... Mágicas, secretas... E eu não podia comentar com ninguém sobre esses exercícios... E foi depois disso que tive o tal sonho. Quando acordei senti-me um tanto agitado, nervoso, com formigamentos pelo corpo todo... Parecia que algo estranho me ocorrera, mas não sabia exatamente o que. Levantei-me e fui ao banheiro. Lavei o rosto e fiquei olhando a água escorrendo pela torneira. Nesse momento vi como a água era linda... A água estava diferente! Parecia viva, luminosa, inteligente. Pela primeira vez ocorreu-me esse fenômeno. A água já não era mais a mesma água de antes! Vi como era alegre, vital, preciosa. Fiquei parado, como em êxtase, observando a beleza daquela água tão pura. Pensei comigo: já imaginou se essa água virasse sangue? Como no filme dos Dez Mandamentos, em que numa das pragas de Jeová toda a água do Egito virou sangue? Para castigo do faraó e do seu povo? E qual não foi o meu espanto quando aquela água cristalina da torneira ficou vermelha como suco de beterraba! Fiquei muito assustado. Meti a mão na água e vi que minha mão ficou rubra. Belisquei-me para ver se não estava sonhando. Estava mais acordado que nunca. Comecei a pensar. Será que fui eu que fiz a água virar sangue? Mas como pode ser isto? Desejei que a água voltasse a ser água de novo e a água voltou a ser pura. Saí para a rua ainda meio assustado, meio incrédulo. Queria atravessar a avenida mas não podia por causa dos carros. Desejei que eles parassem e todos pararam ao mesmo tempo. Atravessei a avenida e quis que todos os carros continuassem seu tráfego normal. E todos voltaram a mover-se, como antes. Fiquei muito perturbado. Por estranho que possa parecer eu me transformara num deus! Tudo obedecia minha vontade. Fiquei com medo e resolvi tomar muito cuidado com meus pensamentos e desejos. Qualquer descuido poderia ser fatal... Já pensou se eu desejasse mal a alguém? Esse alguém sofreria todas as conseqüências dos meus desejos! Naquele resto de dia mantive meus pensamentos voltados para as coisas abstratas... Conceitos, paradigmas, números, figuras geométricas... Tudo por receio de causar algum mal irremediável. Nesse tempo eu era pobre. Vivia só, num quarto alugado no subúrbio do Rio de Janeiro, e tinha que dar duro para arrumar uns míseros trocados... Não tinha dinheiro nem para comprar os livros que precisava para meus estudos esotéricos. Chegou a noite e eu já estava cansado. Fui dormir e antes de cair no sono desejei ser rico. No outro dia acordei com o barulho de alguém batendo à porta. Era um advogado que veio avisar-me que eu era herdeiro de uma grande fortuna. Alguns meses depois me tornara um milionário! Tinha tudo. Mansões, uma na Barra da Tijuca, um dos lugares mais caros do Rio de Janeiro, iate, muitos carros de luxo, jatinho, helicóptero e até um navio... Era dono de uma poderosa indústria de informática internacional e milhares de pessoas me respeitavam, me admiravam, me obedeciam. Porém, eu não estava satisfeito! Pelo contrário. Sentia-me assustado, amedrontado, quase em pânico. Tudo o que eu pensava ou desejava, acontecia! Será que eu tinha ficado louco? Ou tudo aquilo não passava de um pesadelo? Fruto de minha imaginação febril? As noites eu não dormia direito. Acordava coberto de suor... Perdi o encanto da vida. Alguma coisa de anormal havia acontecido comigo. Eu era um homem poderoso, mas cheio de preocupações, aflições, medos... Já não era mais o mesmo de outrora. Antes, quando era pobre, sentia-me feliz, cheio de esperanças em dias melhores, cheio de sonhos... Agora, minha vida virara um purgatório. Resolvi, então, ir dormir para ver se quando acordasse tudo voltava ao normal. Mas não voltou! Acordei molhado de suor. O calor do Rio era sufocante... Eu não gostava de ar condicionado. Sem querer desejei que o tempo mudasse, que fizesse frio. De repente veio um temporal. Trovões espocando no céu. Raios cortando a escuridão. A chuva caindo e um vento forte e frio entrando pelas janelas, balançando as cortinas e tumultuando tudo! Comecei a chorar e de repente tive uma idéia. Se é que meus desejos se realizavam com tanta facilidade, resolvi adormecer e acordar como era outrora. Pobre, sem poder, sem riqueza, mas feliz. Foi então que uma sonolência tomou conta de mim. Adormeci. Ao acordar, tudo tinha voltado ao que era antes, há uns dois anos atrás. Agora eu estava lendo uma revista velha e um anúncio dizia: “Você é pobre, sem recursos? Sofre doenças e dificuldades? Venha conhecer nosso “Círculo Mágico” e torne-se um iniciado, capaz de comandar o vento, a água, o fogo e a terra! Torne-se um homem poderoso e realize todos os seus desejos! “ Caramba, é exatamente isto que eu estou precisando! Vou já ingressar-me nessa seita! Quem sabe consigo tirar o pé da miséria!
Abel Fernandes
sexta-feira, 18 de maio de 2007
Clique na foto uma vez para ampliá-la ao tamanho natural
Praia do Litoral Paulista -Tela a óleo :autor: Abel Fernandes
A PAZ
Onde há paz, há harmonia, alegria, calma...
O sangue circula livremente
e a natureza age em nós
renovando células,
recompondo tecidos
e alargando nossas veias e artérias.
E então há renovação de elementos!
As células doentias são despejadas para fora
e o nosso ser se desabrocha novo,
cheio de vida,
cheio de saúde!
A beleza e a juventude
vêm morar em nosso rosto
e Deus pode expressar-se livremente através de nós.
Nossos atos tornam-se rítmicos, harmoniosos.
Nossa vida melhora.
Nosso cérebro se renova
e tudo é preenchimento,
plenitude...
--------
UM CONTO
de Abel Fernandes
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário