sexta-feira, 27 de junho de 2008

QUANDO
Porto Velho, janeiro de 2008

quando você chegar ao ponto
de não saber nada
sobre o próximo minuto
e quando o desconhecido
atraí-lo mais
que uma noite de amor ou um sorvete de passas ao rum
quando sua mente penetrar naquele silêncio de florestas
e as dúvidas invadirem seu espírito
sem despertar tristezas
e as palavras fugirem da sua língua
como as gazelas fogem da boca esfaimada da pantera
quando você sentir vontade de estar só
apenas para ouvir o sussurro do vento
batendo nas folhas das árvores
quando você descobrir que sentir a brisa da manhã
é melhor
do que beber um copo de vodka gelada
fumar um cigarro
ou comer uma suculenta feijoada...
quando você sentir necessidade de abraçar o estranho
que anda cabisbaixo na rua...
e conversar com árvores e nuvens,
e com pedras, relva, estrelas, ondas e areias
e finalmente quando você esquecer o tempo
e sentir-se menino
com desejos de voar nas asas da alegria
e não mais querer saber se o amanhã é feito de rosas
ou espinhos...
quando você for capaz de escrever um poema
com gotas do seu próprio sangue
misturadas com as de orvalho
e raios de luar...
mas sem derramar uma só gota de lágrima
e manter um sorriso nos lábios
e o seu coração estiver leve como uma pluma ao vento...
só estão você estará vivo de verdade!
só então você não será mais um cadáver ambulante
no meio da procissão de mortos...
que sonham vidas imaginárias...
e passarão sem deixar vestígios...
como milhões de outros passaram...


BELEZAS DA RUA...
São Paulo, julho de 2008

Entrei de manhã na internet...Li: Caminhão bate em 11 carros!
Não deixe de ver... Índia deficiente é assassinada! Não deixe de ler as notícias...
Desliguei imediatamente o computador e a internet!
E saí à rua...
Fui andar ao sol... Que maravilha é o sol! Vi uma arvorezinha de formato circular, as raízes em formato circular, e as folhas também em formato circular, pintadas com as cores verde e amarelo... Em cada haste havia nove folhas... Todas as hastes tinham nove folhas!
Que plantinha inteligente essa! Pensei comigo... Nove folhas... Porque nove folhas em cada haste? Não podia ser três, quatro, oito? Nove folhas! Essa planta, daqui alguns milhões de anos vai evoluir e se transformar num gênio da matemática! Pois se agora, que ela ainda é do Reino Vegetal, já sabe, como Pitágoras, que nove é um número perfeito e completo, porque nele estão contidos todos os outros números, imagine quando ela evoluir e virar gente! Que plantinha inteligente!

Continuei caminhando... Vi uma árvore forte, gigantesca... Suas raízes racharam a calçada toda!
O homem fez o cimento na calçada e a planta com sua força lenta e silenciosa quebrou toda a caçada do homem! Para que a água da chuva possa penetrar na terra... E chegar até as raízes das outras plantas... Que árvore inteligente essa!

Parei num gramado e vi o tanto de vida que há em apenas uns poucos centímetros de terra!
Continuei andando e vi outra arvorezinha com uma flor vermelha! Que vermelho vivo! Que vermelho intenso! A flor parecia uma explosão de filamentos vermelhos! Era em formato de bola! Que flor linda! Parecia o pompom do capuz do Papai-Noel! Que artista maravilhoso se esconde por trás dessa plantinha? Capaz de fazer uma flor tão linda! E tão vermelha...

Continuei andando e vi um mendigo se banhando... Na porta de sua cabana feita de paus e plásticos... E depois ele se sentou num caixote e começou a cortar seus próprios cabelos olhando num caco de espelho menor do que a sua mão! E não estava triste... Estava até feliz! (ele não tem computador... Não lê as notícias da internet...) Agora eu pergunto: Porque há pessoas que querem que vejamos o caminhão que bateu em 11 carros? E uma pobre índia deficiente que foi assassinada sabe-se lá por quem? E bota esses anúncios bem na cara da gente, bem na capa do internet-explorer!
Quem tem que ver isso é a polícia ou o presidente Lula! Para tomar as devidas providências!

Eu prefiro olhar o azul infinito do céu e contemplar nuvens andarilhas...
Eu prefiro olhar as plantas, os jardins, as árvores silenciosas e inteligentes...
Eu prefiro olhar um pedaço de terra e ver a vida que há nele!
Eu prefiro olhar uma joaninha amarela toda pintada com bolinhas vermelhas...
Eu prefiro olhar as asas de uma borboleta... Uma formiga carregando um pedaço de folha... Uma lagarta toda espinhuda devorando uma folha tão entretida que nem olha para os lados... E saber que um dia ela vai virar a bela borboleta e vai ter todo o azul infinito do céu para voar e todas as flores para visitar!

Eu prefiro olhar uma moça linda andando na rua... Balançando seu corpo de rainha... Seus cabelos lisos, ou cacheados... Com seus olhos negros, castanhos, verdes ou azulados, olhando para mim desconfiados... Mas não precisa ter medo de mim, garota! Estou apenas admirando sua beleza feminina! Fique tranqüila, menina... Sou apenas um poeta que ama a beleza! Sou apenas um poeta, menina, e você é uma bela poesia qua anda...











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