Blog do ABEL FERNANDES
Poemas, pensamentos, humor, contos, textos, fotos, natureza, imagens, etc.
quinta-feira, 26 de junho de 2014
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
AMAZÔNIA ERÓTICA
Porto Velho - 09 08 2008
ontem andei na chuva...
estava muito calor,
e choveu de repente...
uma chuva torrencial,
como são as chuvas aqui na Amazônia...
e eu fui andando na chuva...
água gelada...
batendo forte no meu corpo,
que arrepiava de prazer!
a chuva é diferente aqui na Amazônia...
é o esperma cristalino
de nuvens másculas
fecundando a Terra...
a chuva caindo na terra seca
é o mesmo que o homem apaixonado
abraçando a mulher extasiada de amor...
e ejaculando nela seu sêmen...
aqui na Amazônia sexo é como borboletas...
está por toda parte...
as cigarras estão no cio...
as rãs e os sapos estão no cio...
os peixes estão no cio...
as sereias, ninfas, ondinas,
nereidas e naiades,
todas estão no cio...
as mulheres (algumas) também estão no cio...
ah! meu Deus!
apaixonei-me
pela Amazônia!
Abel Fernandes
MINHA ÍNDIA
06 08 2008
Ontem uma borboleta pousou em meu braço...
Estava calor...
Borboletas gostam de suor...
E eu gosto do seu abraço,
Minha índia...
Minha linda!
Meu amor!
Ainda que eu voe para Sampa
Levo você comigo
No meu pensamento...
Abel Fernandes
"EU"
No início da década de 60 eu cursava a primeira série ginasial. Aos dezesseis anos resolvi voluntariamente abandonar os estudos. Levei uma surra do meu pai, fugi de casa, depois voltei e disse-lhe: “Se você me obrigar a estudar, fujo de novo e não volto mais!” Meu pai viu que eu não estava brincando e me deixou em paz. Uma tia que era professora perguntou-me: “Porque você não quer estudar mais, filho?” Eu respondi. Porque não gosto de decorar nada... Estão querendo que eu decore o nome de todos os rios do Brasil, de todos os ossos do corpo humano, todas as serras, montanhas, lagos, capitais, cidades... Querem que eu decore todos os nomes de presidentes... O que fizeram de importante... E eu sinto dor de cabeça, quando estou decorando! E eu pergunto... O que vou fazer com tudo isso, quando eu crescer? Quero apenas ser pintor e poeta! Para isso não preciso de saber nomes de rios, estados, cidades, ossos, presidentes, e os cambal!” Minha tia riu e viu que eu não tinha jeito, mesmo... Daí para frente passei a estudar por conta própria. Adorava ler livros de poesias. Li diversas vezes o “Espuma Flutuante” de Castro Alves. Cheguei decorar alguns poemas de tanto lê-los. Li e encantei-me com todos os poetas românticos. Fiquei fascinado com Augustos dos Anjos. Decorei diversos poemas dele. Depois descobri os modernos! Fiquei fã de Carlos Drumonnd de Andrade e Fernando Pessoa. Tornei-me amigo de poetas jovens da minha época. Tínhamos até um grupo, quando eu morei na cidade de Guaratinguetá. Freqüentava assiduamente a biblioteca da cidade, que era rica em livros de autores brasileiros. Depois apaixonei-me pela filosofia. Um amigo meu estudante de filosofia convidou-me a ir assistir aulas em sua faculdade. Fui e passei a ser apenas “ouvinte”... Os professores me deixavam participar das aulas. Nessa época eu era muito pobre e não tinha dinheiro nem para um cafezinho. Vivia de bicos. Era meio vagabundo, malandro, e tinha dupla personalidade. Uma era estudiosa, amante da poesia, filosofia, artes em geral. A outra era malandragem pura. Conhecia alguns dos bandidos mais perigosos de São Paulo! Meu apelido, na época, era “Toninho filósofo”. (meu nome é Antonio Abel) Uns me chamavam de Toninho "fisólofo” Outros, “Toninho Poeta”. Uma vez fui preso, algemado, porque fui pego com um bandido perigosíssimo, assaltante de bancos, ele fugiu e eu não consegui... Me algemaram e levaram-me para um camburão. Lá o tenente perguntou-me. O que você faz, moleque? Eu disse-lhe: estudo filosofia! Ele disse-me: vou te fazer três perguntas. Se você responder as três, eu acredito. A primeira pergunta: Quem foi Sócrates? A segunda: O que significa a palavra “filosofo”. A terceira: Qual a frase mais famosa de Descartes? Respostas: Um filósofo grego, que teve que beber um veneno chamado cicuta. Filosofo quer dizer: “amigo da verdade” Descartes disse: “Penso, logo existo!”, que resume toda a sua filosofia. O tenente ficou perplexo. Ele gostava de filosofia e eu fiquei falando sobre filósofos, histórias de sabedoria, e ele ficou fascinado com meu conhecimento. Perguntou-me: “O que você estava fazendo com o “Birita”? Esse era o apelido do assaltante de bancos. Eu respondi. Ele é meu vizinho, e somos amigos desde a infância... Só porisso. Nisso chega o Birita, desarmado, levantando a camisa para mostrar que veio em paz. Conversou com o tenente um pouco e o tenente deu ordens a um soldado para me soltar. O soldado soltou-me e fomos embora, eu e o Birita. Perguntei-lhe. O que você fez. Ele disse: Dei dez contos pra eles soltarem você!” E disse que depois daria mais... (Dez contos, equivalente a dez mil reais hoje!” O Birita tinha um colchão forrado de dinheiro. Tinha dinheiro enterrado no quintal. Nas paredes. Eu tinha dezessete anos, na época. Isso foi em 1962! Com certeza o Birita já deve estar morto hoje.
Nessa época ele já havia levado diversos tiros um bem no meio da barriga. Ficou várias semanas internado num hospital, mas sobreviveu.
Graças aos meus estudos consegui sobreviver, regenerar-me, aprender a pintar, e graças também aos meus conhecimentos artísticos tornei-me marchand, antiquário e livreiro. Com isso consegui criar quatro filhos, nenhum estudou mais do que a primeira série, como eu, mas todos estão bem encaminhados na vida. O mais velho é marchand, o outro é pintor premiado, desenhista, ilustrador e marchand também. Meu genro é restaurador e moldureiro e o meu filho mais novo é seu aprendiz. Todos vivem confortavelmente e a caminho de um sucesso cada vez maior! Acredito, portanto, que a melhor escola é o mundo! O melhor professor é a prática! O melhor mestre é a vida! E o que nos leva verdadeiramente ao sucesso, ao êxito é o amor as artes e ao conhecimento! Quem aprende “obrigado ou forçado” esquece rapidamente tudo o que aprendeu, e quem aprende por amor, por prazer, por diversão, nunca mais esquece!
A melhor educação é incentivar o filho a ler e estudar o que ele gosta! Não o que “nós” queremos. Tenho um amigo que o pai obrigou-o a ser médico! Só que ele desmaia quando vê sangue! Hoje vive de música! E muito melhor do que qualquer médico! Se o pai dele tivesse incentivado ele a estudar música, hoje, provavelmente, seria um grande maestro! Por isso é preciso ver a Educação, o Ensino, o Mestrado, as Leis da política brasileira com olhos bem críticos... Isentos de preconceitos, de prejulgamentos e de preguiça mental! Viver a vida! Sentir, ver, ouvir, participar, viajar, pensar, amar, chorar, exultar, ir contra, verbalizar, exprimir, protestar, expressar, curtir, declamar, fotografar, escrever, publicar, pintar, ganhar dinheiro, comunicar, viajar, gastar! Isso é o que eu faço! Isso é que é viver! E é assim que se aprende de verdade!
Abel Fernandes
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Porto Velho, janeiro de 2008
quando você chegar ao ponto
de não saber nada
sobre o próximo minuto
e quando o desconhecido
atraí-lo mais
que uma noite de amor ou um sorvete de passas ao rum
quando sua mente penetrar naquele silêncio de florestas
e as dúvidas invadirem seu espírito
sem despertar tristezas
e as palavras fugirem da sua língua
como as gazelas fogem da boca esfaimada da pantera
quando você sentir vontade de estar só
apenas para ouvir o sussurro do vento
batendo nas folhas das árvores
quando você descobrir que sentir a brisa da manhã
é melhor
do que beber um copo de vodka gelada
fumar um cigarro
ou comer uma suculenta feijoada...
quando você sentir necessidade de abraçar o estranho
que anda cabisbaixo na rua...
e conversar com árvores e nuvens,
e com pedras, relva, estrelas, ondas e areias
e finalmente quando você esquecer o tempo
e sentir-se menino
com desejos de voar nas asas da alegria
e não mais querer saber se o amanhã é feito de rosas
ou espinhos...
quando você for capaz de escrever um poema
com gotas do seu próprio sangue
misturadas com as de orvalho
e raios de luar...
mas sem derramar uma só gota de lágrima
e manter um sorriso nos lábios
e o seu coração estiver leve como uma pluma ao vento...
só estão você estará vivo de verdade!
só então você não será mais um cadáver ambulante
no meio da procissão de mortos...
que sonham vidas imaginárias...
e passarão sem deixar vestígios...
como milhões de outros passaram...
BELEZAS DA RUA...
São Paulo, julho de 2008
Entrei de manhã na internet...Li: Caminhão bate em 11 carros!
Não deixe de ver... Índia deficiente é assassinada! Não deixe de ler as notícias...
Desliguei imediatamente o computador e a internet!
E saí à rua...
Fui andar ao sol... Que maravilha é o sol! Vi uma arvorezinha de formato circular, as raízes em formato circular, e as folhas também em formato circular, pintadas com as cores verde e amarelo... Em cada haste havia nove folhas... Todas as hastes tinham nove folhas!
Que plantinha inteligente essa! Pensei comigo... Nove folhas... Porque nove folhas em cada haste? Não podia ser três, quatro, oito? Nove folhas! Essa planta, daqui alguns milhões de anos vai evoluir e se transformar num gênio da matemática! Pois se agora, que ela ainda é do Reino Vegetal, já sabe, como Pitágoras, que nove é um número perfeito e completo, porque nele estão contidos todos os outros números, imagine quando ela evoluir e virar gente! Que plantinha inteligente!
Continuei caminhando... Vi uma árvore forte, gigantesca... Suas raízes racharam a calçada toda!
O homem fez o cimento na calçada e a planta com sua força lenta e silenciosa quebrou toda a caçada do homem! Para que a água da chuva possa penetrar na terra... E chegar até as raízes das outras plantas... Que árvore inteligente essa!
Parei num gramado e vi o tanto de vida que há em apenas uns poucos centímetros de terra!
Continuei andando e vi outra arvorezinha com uma flor vermelha! Que vermelho vivo! Que vermelho intenso! A flor parecia uma explosão de filamentos vermelhos! Era em formato de bola! Que flor linda! Parecia o pompom do capuz do Papai-Noel! Que artista maravilhoso se esconde por trás dessa plantinha? Capaz de fazer uma flor tão linda! E tão vermelha...
Continuei andando e vi um mendigo se banhando... Na porta de sua cabana feita de paus e plásticos... E depois ele se sentou num caixote e começou a cortar seus próprios cabelos olhando num caco de espelho menor do que a sua mão! E não estava triste... Estava até feliz! (ele não tem computador... Não lê as notícias da internet...) Agora eu pergunto: Porque há pessoas que querem que vejamos o caminhão que bateu em 11 carros? E uma pobre índia deficiente que foi assassinada sabe-se lá por quem? E bota esses anúncios bem na cara da gente, bem na capa do internet-explorer!
Quem tem que ver isso é a polícia ou o presidente Lula! Para tomar as devidas providências!
Eu prefiro olhar o azul infinito do céu e contemplar nuvens andarilhas...
Eu prefiro olhar as plantas, os jardins, as árvores silenciosas e inteligentes...
Eu prefiro olhar um pedaço de terra e ver a vida que há nele!
Eu prefiro olhar uma joaninha amarela toda pintada com bolinhas vermelhas...
Eu prefiro olhar as asas de uma borboleta... Uma formiga carregando um pedaço de folha... Uma lagarta toda espinhuda devorando uma folha tão entretida que nem olha para os lados... E saber que um dia ela vai virar a bela borboleta e vai ter todo o azul infinito do céu para voar e todas as flores para visitar!
Eu prefiro olhar uma moça linda andando na rua... Balançando seu corpo de rainha... Seus cabelos lisos, ou cacheados... Com seus olhos negros, castanhos, verdes ou azulados, olhando para mim desconfiados... Mas não precisa ter medo de mim, garota! Estou apenas admirando sua beleza feminina! Fique tranqüila, menina... Sou apenas um poeta que ama a beleza! Sou apenas um poeta, menina, e você é uma bela poesia qua anda...
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Porto Velho, fevereiro de 2008
há cipós na floresta
rastejando entre folhas vivas
e mortas
como serpentes famintas...
vêem de paragens misteriosas
onde anjos irradiam seivas de sonhos
em sussurrantes brisas amorosas...
e há cipós que são raízes
penetrando na terra úmida
como sondas vegetais.
e há cipós que pulsam
como artérias verdejantes
circulando seivas
em corações de árvores milenares...
e há cipós que falam
em linguagens silenciosas
falam de flores, de rosas.
de segredos
e mistérios...
contam histórias heróicas
com enredos muito sérios...
falam de jardins perfumados
de palácios encantados,
de reis, rainhas, princesas
de imaculadas belezas,
e de lírios orvalhados...
e no silêncio de matas com ecos de pássaros
e gritos de invisíveis animais
ouvem-se cantos de insetos ocultos entre folhas
e chamados de sapos e rãs antediluvianos
onde lianas sobem em árvores
e vão espiar horizontes verdes!
ah! meu Deus! na verdade
sinto que ainda tenho muito que aprender
do reino vegetal!
floresta
PV- 30/01/2008
pisar em chão de musgo úmido
recoberto de folhas ressequidas,
com gravetos secos
e sementes
e restos de insetos
e sombras
e pálidos cogumelos
e ouvir o ruído dos passos
misturados com cantos de pássaros
e o coaxar de multicoloridas rãs
ocultas sob folhas verdejantes
e ouvir o sussurro do vento
brincando em folhas dançantes
e também estampidos longínquos de galhos secos
a se quebram na mata!
e saber que dentro da floresta
há espíritos silenciosos...
há espíritos que moram em árvores
em seus galhos
em suas folhas
em suas flores
em seus frutos
em suas sementes
em suas seivas
em suas raízes...
e há espíritos silenciosos
que choram lágrimas de orvalho
e de sereno
ao ouvirem o canto estridente
de serras elétricas
de homens sem alma
e sem coração
cortando troncos
de árvores centenárias!...
ESPELHOS
São Paulo, março de 2008
no meio de espelhos me movo...
vejo-me nos espelhos
ora triste
ora alegre
às vezes chorando
à vezes contente
ora cantando, rezando
mas... de vez em quando,
irreverente!
vejo-me refletido em mil facetas coloridas!
cada espelho fala-me do que sou
do que sinto
do que vou
do que escondo
do que minto!
cada espelho é um reflexo da minha vida!
em cada um vejo minha alma refletida!
cada espelho é um sinal, um arcano, um mistério!
alguns refletem meu lado alegre
outros meu lado sério!
ando entre espelhos que não sabem que são espelhos!
uns estão inteiros, límpidos, polidos,
outros embaçados, sujos,
alguns trincados, partidos...
ando no meio de espelhos refletores
que refletem ódios, tristezas,
amores....
espelhos que falam,
riem,
sentem prazeres e dores...
ando no meio de espelhos que não sabem
que eu também sou,
para eles,
um espelho!
tarde de verão em porto velho
01 02 2008
vento da tarde.
o bambu,
humilde,
reverente,
curva-se até o chão....
uma chuva cai, de repente...
sem relâmpago,
ou trovão...
é chuva de verão...
na beira da lagoa
chora
derramando lágrimas de garoa
o entristecido chorão...
um besouro ruidoso negro
brilhante,
voa...
zzzzzzzzzzzzz...
voa pesado
desajeitado...
voa a esmo
e vai pousar lentamente
numa folha de taboa...
chega a noite estrelada...
uma lua rosada aparece...
o sentimento é de paz, sossego, prece...
e o vento, continuado,
soprando, zunindo, cantando
a toda floresta
abençoa...
canto da floresta
31/01/2008
o silêncio da floresta
é um silêncio misterioso, compacto,
algo no universo
que ainda permanece intacto!
uma massa de zumbidos,
de ruídos
de folhas balançando,
de folhas roçando uma nas outras,
de pequenos grilos no cio...
de pios, arrulhos, cicios...
são barulhos
de minúsculos motores
de insetos zumbidores...
se você prestar atenção
há de ouvir um ruído estranho dentro da floresta...
um ruído quase inaudível,
misterioso
e indescritível...
mas tão real como o canto da juriti,
e o piado do anu,
do chamado do bentevi
e do gemido triste do nambu...
é o ruído de milhões de formigas
andando apressadas
nervosas, atarefadas
em cima de folhas secas
levando mantimentos
para os labirintos de suas tocas profundas...
é o ruído de milhões de raízes
perfurando a terra úmida
na eterna busca da água vital!
e da seiva subindo,
se expandindo
pelo cerne do reino vegetal...
e se transformando em galhos
folhas, flores,
frutos...
se você silenciar sua mente,
aquietá-la suavemente
e ouvir com muita atenção
há de ouvir um ruído aveludado...
são aranhas tecendo suas teias...
são crisálidas
metamorfoseando-se em borboletas...
são sementes germinando
debaixo da terra grávida...
são cogumelos crescendo e se espalhando
nos troncos apodrecidos
da floresta...
são serpentes rastejando
por entre folhas secas no chão...
são abelhas
fabricando o precioso mel!
são flores desabrochando...
e pétalas se desprendendo suavemente
para colorir e perfumar
o sombreado chão...
são folhas caindo lentamente das copas verdejantes...
são pássaros voando ao longe...
são igarapés correndo dentro da mata...
na verdade,
não há silêncio dentro da floresta!
só existe silêncio
no interior do homem
e é só com esse silêncio
que ele pode ouvir
a grande sinfonia
da vida florestal!
PORTO VELHO
neste lugar de paz
o silêncio é uma serpente invisível
que flui pelos meandros ensombrados
de raízes silenciosas
a procura de palavras
misteriosas
e sussurrantes...
rios de águas caudalosas
fluem etéreos
carregando peixes de desejos
e lagartos com escamas prateadas
dormem sorridentes ao sol
e matas cantarolantes de vento
filtram relâmpagos dourados
e gritos de pássaros labirínticos
perfuram tímpanos distantes
e anus e japins entoam seus cânticos ecoantes
em raízes encobertas
por águas impregnadas de saudades...
O índio contempla silencioso
um céu azul cobalto
em busca do pássaro mágico
que o levará um dia ao país
onde araras douradas
cantam melodias azuis
silenciosas...
Porto Velho é uma gota de sombra
numa imensa ilha de cascalho
e musgo
em águas amazônicas!
quinta-feira, 5 de junho de 2008
quando ela já passou...
Quando ela ficou lá no fundo da memória...
E não há como voltar atrás!
Não há como tirar os pelos dos rostos...
O cansaço dos músculos e ossos...
O branco dos cabelos...
Paletós empoeirados...
Não há como vestir novamente
aquelas calças curtas até os joelhos...
Não há como voltar a correr pelos campos e prados...
E depois deitar-se na grama verde
e sonhar que é um Super-homem,
ou um Batman ou um Robin!
A gente só dá valor ao amor quando ele foi embora...
Quando a casa ficou silenciosa, como agora...
Quando não há mais aquela saudosa presença,
aqueles ruídos de panelas fumegando no fogão...
E aquelas batidas fortes no coração...
Quando não há mais aquele calor gostoso na cama,
vindo da mulher que a gente ama,
aquele cafezinho quentinho de manhã...
A gente só dá valor ao amor
quando a solidão veio sentar-se no sofá da sala,
e contar-nos lindas histórias de tempos antigos,
quando os minutos eram amigos,
e se alongavam, e se derramavam lentamente
em dias cheios de alegria,
e havia esperanças de melhores dias,
e o ar era impregnado de poesias,
e havia noites estreladas,
e a gente saia por aí andando por estradas de mãos dadas somente para contemplar o luar...
Quando a gente se aquietava para ouvir melodias...
A gente só dá valor à felicidade
quando o véu cinzento da tristeza
veio envolver a nossa alma,
e tudo é vazio e frio,
e o destino é um rio
que corre silencioso pelas noites
e os fantasmas rondam pela casa vazia
e a cama fica assim tão fria...
Portanto, amigo,
acaricie sua mulher enquanto ela está aí contigo,
dê-lhe presentes enquanto ela está presente...
Abrace-a enquanto ela está bem aí na sua frente...
Diga-lhe as palavras mais carinhosas
enquanto ela não se fez ausente!
E ande, corra, se movimente
enquanto seu corpo pode,
olhe as flores, as nuvens e as estrelas
enquanto seus olhos são capazes de vê-las...
Enfim amigo, vive a vida intensamente,
não deixe que o entusiasmo se ausente,
vive, amigo, vive agora o momento presente!
Vive amigo!
Enquanto a vida está aí contigo
E também comigo...
A ARTE DA FOTOGRAFIA
É preciso que haja em primeiro lugar o olho do artista! Que é o essencial para buscar, encontrar e mirar a beleza... De um rosto diferente, de um inseto ou animal raro! De uma paisagem, de uma sombra, de um amanhecer, de um por de sol, de um arco-íris, de um luar... É preciso que haja os olhos atentos em busca da estética, do contraste ou da graça! Da espontaneidade nos gestos! Da geometria das formas... Ou mesmo da feiúra ou um fragrante de cena de miséria, de irreverência qualquer... De uma cena rara, de um ato de desatino ou de loucura. É preciso que haja o bom gosto aliado ao senso de poesia para captar aquele raio de sol na pétala da flor, ou aquela gota de orvalho na folha do bambu, ou aquelas cintilações na superfície de um lago... É preciso que haja um intenso amor à vida, à natureza, à humanidade para descobrir resquícios de beleza, expressões de grandeza e sacralidade ocultas dentro do comum e do cotidiano... É preciso que haja a arte pelo puro prazer da descoberta, pelo puro prazer do encantamento, do deslumbramento, do êxtase diante da existência que passa... A máquina, a lente, a memória digital, por mais eficientes e caros e perfeitos que sejam de nada adiantarão se não houver o olho sagaz do fotógrafo em busca do inusitado, do inédito, e a presteza e agilidade para clicar no momento exato! E o enquadramento, e o uso ou não do flash, e também a capacidade de escolher a quantidade de luz mais adequada... E o gosto pela imagem, e o prazer de registrar e gravar as nuances de um mundo em movimento, em mutação permanente... E a paciência para esperar o momento exato... E também a esperteza e ousadia para ir fotografando detalhes íntimos das pessoas em permanente distração dentro da vida... Expondo-se a levar palavrões, sopapos e até perder a máquina em certas condições mais perigosas... Enfim, ter essa paixão pela imagem, pelas formas, pelas cores... É preciso ser artista! Pintor! Desenhista! Poeta! E andar sempre com a máquina pronta, preparada e engatilhada... Fotografar é preciso! Viver não é preciso!
IRRITAÇÃO, O QUE É...
A irritação é uma forma que a natureza nos deu para lapidarmos-nos, para melhorarmos-nos, para aprimorarmos-nos e para evoluirmos! Porque quando a gente se irrita, algo está errado em nós... E o que temos que fazer, então? Trabalhar psicologicamente para sanar o erro. Por exemplo, a mãe se irrita porque a criança é inteligente e quer saber tudo... Vejam. A criança é toda vitalidade, toda despreconcebida, toda solta e descontraída... A mãe já perdeu aquele deslumbramento da criança... Tornou-se bitolada com o passar dos anos, uma pessoa preocupada, ansiosa, doente, psicótica. Já não tem mais aquele anseio de aprender que tem toda criança. Aquele êxtase pela vida! Isso é um mal, uma psicopatia, uma doença que ela adquiriu no mundo com o passar dos anos... Se ela continuar assim, vai envelhecer rapidamente, vai esclerosar, adoecer, ficar feia, opaca, sem vida. A criança, que é uma expressão da força da Vida na Terra, tem a alma ainda tenra, inocente, pura, está mostrando-lhe como sair dessa situação, mas ao invés dela prestar atenção nessa mensagem do Universo para ela e buscar a sua criança interior, que está dormindo, e precisa acordar urgentemente para melhorar sua vida, sua saúde, ela se irrita, grita com a criança, maltrata-a, castiga-a, bate nela, e com esses atos vai contaminando a criança com sua doença, vai deformando-a, bloqueando-a, escurecendo-a pouco a pouco... Anos depois a criança vai ser outra doente, outra psicótica, outra ansiosa, outra infeliz, e vai contaminar outras e outros e mais outros até a humanidade inteira ficar mergulhada num pesadelo horrível e Jesus ter que vir ao mundo ensinar de novo os homens a serem crianças novamente! "Em verdade vos digo, se não vos fizerdes como as criancinhas, jamais entrareis no reino dos céus", que é o reino da felicidade, da paz, do amor, da saúde, da alegria e da harmonia... Portanto, quando a gente se irrita com alguém, seja criança ou velho, seja amigo ou inimigo, seja parente ou estranho, é porque algo está errado em nós... Então temos que descobrir o que está errado e trabalhar sobre esse lado de nosso ser para conquistarmos a saúde anímica e o bem estar a que todos temos direito!
Abel Fernandes
OFENSA, O QUE É?
Se uma pessoa nos diz algo, e nos ofendemos, é porque “somos” esse algo, por isso nos ofendemos... Ofender-se é a mesma coisa que abrir-se uma fenda, um buraco, por onde está sujeito a vazar aquilo que tem que permanecer dentro, oculto, fechado a sete chaves... Por esse buraco vai sair energia acumulada durante anos, ou um monstro psicológico, (uma crise de raiva, ira, descontrole, ou um desatino qualquer,) que vai aprontar alguma... E como o pai desse monstro é a pessoa descuidada a culpa vai cair sobre ela... Se não somos aquilo que a pessoa nos classifica, para que vamos nos aborrecer? Quando nos ofendemos e nos aborrecemos, é porque “algo” que estava escondido nas sombras do “inconsciente” foi atingido e vem à tona... De certa forma psicologicamente falando, é até bom que pessoas nos ofendam de vez em quando, porque só aí é que podemos observar-nos e verificar nossos defeitos, falhas, e coisas indesejáveis que moram dentro de nós, e às vezes nem percebemos... Nem nos damos conta... Assim como há doenças físicas, orgânicas ocultas no organismo, e elas passam anos despercebidas, até que um dia, devido à um esforço excessivo, uma corrente de vento, um resfriado qualquer, elas surgem para azucrinar, tirar o bem estar e a alegria da vida, assim também há doenças psicológicas, anímicas, que surgem de repente e causam sérios problemas e transtornos nas vidas das pessoas descuidadas... Um exemplo: alguém diz que eu sou desonesto, mas eu sei que não sou e todos sabem disso... Para que, então, perder a linha, ficar magoado e ofendido? Ele é que se desclassifica a si mesmo ao me chamar por algo que não sou! Se eu me ofendo, me irrito, me aborreço e parto para a réplica, para a briga, isto significa que o que ele disse me atingiu em cheio e eu desci para o seu nível... Então é melhor eu ficar na paz e na serenidade porque quem age assim só tem a ganhar sempre! E deixar que o outro permaneça no seu nível que é o lugar onde ele merece ficar enquanto não aprender a respeitar os outros... E examinar-nos direitinho, profundamente, imparcialmente, e descobrirmos o que temos que fazer para nos livrarmos desse “ALGO” desse defeito, dessa ”coisa infeliz” que nos inclina a descer, ao invés de subirmos... Apaga-nos, ao invés de acender-nos... Obscurecer-nos, ao invés de iluminar-nos... Entristecer-nos, ao invés de alegrar-nos... Abel Fernandes
GUERRA? PAZ E AMOR!
O que eu penso sobre a guerra no mundo? Eu penso assim... Enquanto outros preparam a guerra, eu prefiro ficar contemplando uns olhos lindos que eu descobri em algum lugar do Brasil, talvez Porto Velho, São Paulo, talvez Rio, umas “meninas” que são as coisas mais lindas do mundo! Sabem? Por elas vou a qualquer guerra, empunho metralhadoras, uma em cada mão, dirijo um tanque blindado, enfrento um exército, rastejo em qualquer floresta vietnamita, me jogo de pára-quedas e sabem-se lá mais o que sou capaz de fazer! Enquanto os caras lá dos "steites" e de outras bandas ficam treinando suas bazucas, afiando baionetas, enchendo de pólvora e pontas de aço granadas, maquinando suas manobras de guerra, ataques e bombardeios, eu fico escrevendo meus poemas... A maioria para as belas moças/donzelas... E observando seus lindos olhos castanhos esverdeados, ou verdes acastanhados, ou só castanhos, ou só verdes, ou azuis, (ou talvez negros?) são tão lindos que já nem sei mais se suas cores são deste ou do outro mundo!... E fotografando seus rostos de princesas/rainhas, seus cabelos cacheados e seus sorrisos aperolados. Enquanto se trama, eu teço e bordo... Enquanto se armam, eu amo... Enquanto se maquina, eu me animo me afino e me faço menino... Enquanto se agride, eu progrido e convido todos ao êxtase do amor... Enquanto atraem dores, eu me perco em amores... Eu me deleito com flores, odores e cores... Enquanto fabricam morte, eu agradeço a sorte de estar vivo e poder rir, amar, dançar, viajar, sonhar, ler e escrever... Abel Fernandes
POESIA
Tire o chapéu da cabeça de um homem,
Tire o homem de cima do seu sapato,
Tire o sapato de cima do cimento,
Tire o cimento de cima da terra
E o que fica?
Fica a Poesia!
Poesia é o que fica
Quando se tira a ganância do lucro,
O desejo de posse,
Os interesses mesquinhos,
A pressa,
O medo;
A raiva
E a mecanicidade...
Poesia é sair à rua sem rumo e sem destino...
E chegar exatamente no melhor de todos os lugares!
Depois,
Voltar pra casa,
Não ligar a televisão,
Nem o rádio,
Nem o chuveiro...
Não sentar nem deitar...
Nem pegar telefone...
É chegar simplesmente
E sentir
Em toda sua plenitude
Apenas o momento da chegada!
E agradecer ao Universo
Por ter um lugar nele!
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Sexta-feira, 30 de Maio de 2008
O MAIOR ARTISTA DO UNIVERSO!
Por Abel Fernandes
Eu acredito que o maior artista do Universo é Deus!
Ele devia estar de bom humor quando criou a girafa, o elefante, o hipopótamo, o camelo... Resolveu brincar um pouco, e estava muito bem humorado mesmo, e ai criou a baleia azul, e logo em seguida as outras de cores variadas, e depois o polvo e as águas vivas, e as lulas... As minhocas vieram por um descuido... Provavelmente um rascunho antes de criar as cobras e serpentes... E foi criando, criando, criando... Numa manhã estava bem inspirado mesmo, e aí criou a mulher! Esse foi o melhor momento! O de maior criatividade! Foi depois disso que Adão começou a ficar esperto e gostar de estar vivo! Antes ele olhava para o Paraíso, bocejava, e ia dormir um pouco à sombra de uma árvore qualquer... Mas depois que a mulher apareceu, ele nunca mais pode dormir em paz... Até hoje está perplexo diante dessa maravilha divina que Deus criou... E seu deleite é saber que ela saiu de dentro dele! Por isso é que está sempre grudado nela! E ela nele... Deus é o Ser mais bem-humorado do Universo! Faz cada uma!
O QUE É POESIA?
PENSAMENTOS E REFLEXÕES SOBRE POESIA
Por Abel Fernandes
A Poesia serve para a gente sentir coisas inusitadas, ver a vida por outros prismas diferentes, com outros olhos... E isso nos leva redimensionar, reestruturar, revolver o terreno fértil da nossa alma e fazer brotar nele novos ramos e novos rumos...
A Poesia serve para nos tirar da monotonia do dia a dia, para levar nossa atenção para outra dimensão, para despertar, acordar e fazer-nos prestar atenção na vida que passa...
A Poesia serve para despertar em cada pessoa sentimentos de alegria, êxtase, saudade, tristeza, fé, anseio, anelo, e levá-la a expressar tudo isso em palavras no papel...
A Poesia serve para ativar o lado criativo de cada um e valorizar a percepção, a sensação, o sentimento e a emoção...
A Poesia serve para criar um porque do viver, um motivo de existir, serve também para empurrar-nos pra frente e fazer-nos mais humanos, mais vivos, mais ativos e mais divinos!