sábado, 23 de junho de 2007


Abel Fernandes - Porto Velho - 2006 - Foto do autor

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Abel Fernandes - 2006



Filhotes de curruira - Foto Abel Fernandes - Porto Velho 2007



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Arara de Porto Velho





GÁRGULAS (conto)






Certa vez bebi um copo de chá Hoasca e vi uns seres estranhos. Tinham a forma de gárgulas. Pareciam figuras extraídas dessas histórias fantásticas dos contos de fadas. Eu observava-os fascinado, perplexo. Formavam um grupo de uns sete, cada um mais interessante que o outro. Estavam na minha frente observando-me. Como sou artista, pintor, tudo o que tem a ver com imagens, desenhos, formas, cores, desperta-me o interesse. Eu contemplava esses seres admirando suas formas e designers dignos de um Frazeta ou Boris Valejo. Não tinha medo deles... Ao contrário, sentia, sim, uma euforia, uma alegria espiritual maravilhosa, um sentimento de gratidão pelo Ser divino que nos possibilita ver o invisível, penetrar nesse mundo cujo acesso só é permitido aos iniciados, magos, bruxos, santos, profetas, videntes e feiticeiros... De vez em quando vinha-me também um sentimento de apreensão, um misto de medo e espanto, como se uma voz dentro de mim dissesse: “--- O que você está experimentando é algo misterioso, o qual pouquíssimos indivíduos no mundo tem esse privilégio! Será que você não está transgredindo alguma lei espiritual?” Ao mesmo tempo que vinham essas sensações e sentimentos vinham outros de alegria, o mesmo sentimento que ocupa a alma de um cientista quando descobre algo inusitado... Ou de um geólogo quando dá de cara com um mineral não catalogado... Ou um biólogo quando se vê frente a frente com um microorganismo totalmente estranho e inédito para a Ciência... O que eu sentia naquele momento era um misto de apreensão, (sentimento que nos invade quando estamos fazendo algo fora da lei, pisando em terreno proibido) espanto, admiração, respeito, todavia, ao mesmo tempo compenetrava-me um sentimento de segurança, confiança, pois sabia que eu estava bebendo o chá sagrado dentro de uma organização espiritualista sem interesses financeiros, ou de enganar, explorar e iludir o próximo. Bebia esse santo líquido com a permissão e licença de pessoas idôneas, equilibradas, limpas, cujos atos, fisionomia e comportamento expressavam bem suas boas intenções e caráter inquestionável!
Não conhecia muito bem algumas das pessoas que participavam da sessão, pois eu era um novato ainda nesse caminho, nem seus auxiliares, porém seus rostos, olhos, modo de vestir, falar, tudo isso irradiava equilíbrio, domínio próprio, controle emocional, e eu sabia porque estava bebendo o Chá amazônico... Não era um simples ato de curiosidade. Meu objetivo era de estudo sério, pesquisa, pois desde a idade de dezesseis anos venho trilhando esse Caminho do Esoterismo e Ocultismo... Já havia lido muitos livros sobre o assunto, e minha maior felicidade era estar, nesse momento, vivendo, experimentando, tendo acesso real a uma situação que antes apenas havia tomado conhecimento teoricamente, através de leituras... Esse conhecimento proveniente dos livros empalidece, some, desaparece, diante da experiência proporcionada pelo chá Hoasca!
Voltando a falar dos “seres” que eu observava e que também me observavam, eles estavam ali, diante de mim, tão reais e palpáveis como as árvores, os pássaros, os objetos que preenchem nosso mundo material. Via-os nos mínimos detalhes, nítidos, vivos, olhando-me tão espantados como eu espantava-me diante deles... E esses seres existem, realmente! Não neste mundo material, mas no outro, o que fica além da matéria, numa outra dimensão. Muitos artistas, poetas, escritores, principalmente os que escrevem fábulas, contos fantásticos, de terror, de ficção, graças a um dom especial, conseguem ver esses seres... As crianças, os animais, os índios, os loucos, também os vêem. A maioria dessas máscaras que preenchem o mundo pagão e mitológico dos indígenas e povos orientais são copiadas das visões desse mundo. Os monges, as pessoas muito fervorosas, os que praticam visualizações, meditações, de vez em quando também vêem esses seres em breves lampejos de clarividência! E ficam aterrorizados imaginando que são demônios... Rezam a Deus... e eles desaparecem...
E ali estava eu observando-os, fascinado, quando, de repente, começaram arreganhar-me os dentes... Eram dentes muito alvos, como marfim... No momento fiquei apreensivo, porém, como mostravam-me seus dentes de forma calma, serena, sem expressarem impressões de hostilidade, acalmei-me... Ficaram alguns minutos ali, arreganhando-me os dentes, enigmaticamente, depois sumiram... Em seguida vieram outras imagens, cenas da minha infância, recordações à muito esquecidas... etc.
Terminada a sessão fui para casa dormir e não pensei mais no assunto. Mas de vez em quando vinham-me ao espírito as lembranças daquelas imagens estranhas, daqueles seres do outro mundo mostrando-me seus dentes. Eram imagens fantásticas, surrealistas, e se algum dia o destino permitir, farei alguns desenhos para ver se consigo captar ao menos em parte a beleza e magia das expressões e dos designer desses seres... Descrevê-los com palavras é quase impossível. Sei que eram musculosos, fortes, com olhares magnéticos... Seus olhos pareciam poças de luz esverdeadas... Alguns desses olhos eram semelhantes ao âmbar, com luz dentro. Eram, de certa forma, feios, mas ao mesmo tempo, lindos, por serem totalmente diferentes de qualquer ser vivo deste mundo! A verdade é que eu não os vias com os olhos de carne, e sim, com os mesmos olhos que vemos os pensamentos, as lembranças, as imagens que passam pela nosso interior... Via-os até com os olhos fechados. E mesmo com os olhos fechados, tudo o que eu via era banhado por uma luz dourada intensa, como se estivesse num dia de pleno verão!
O tempo passou e um belo dia, estava eu diante do espelho barbeando-me quando lembrei-me daqueles seres e comecei a arreganhar os dentes tal como eles faziam, tentando até imitá-los. Qual não foi o meu espanto ao verificar que meus dentes estavam horríveis. Cheios de tártaros, cáries, amarelentos... Fazia anos que eu não ia ao dentista. Minha vida, ultimamente, andava tão movimentada que eu não tinha tempo de olhar para mim, para minha aparência... Senti vergonha de mim mesmo. Tenho certeza que muitos amigos e pessoas de minha família já haviam visto meus dentes nesse estado mas não tinham coragem de falar-me... Assim é o mundo. Ninguém tem coragem de dizer as verdades sobre nossos defeitos, fraquezas, e mesmo quando dizem, defendemo-nos, discutimos, teimamos, e acabamos nos aborrecendo com aqueles que ousaram tocar em assuntos tão delicados e que dizem respeito somente a nossa pessoa. No mundo é assim. Se você quer criar um inimigo, diga-lhe certas verdades sobre sua personalidade, sobre sua aparência... A maioria já sabe disso e mantém-se como aqueles três macaquinhos célebres que são vendidos nas lojas de brique-a-braques os quais são sempre representados tampando a boca, os olhos e os ouvidos...
O chá, porém, é um Ser de origem divina. Mostra-nos as verdades que precisamos saber de um jeito todo especial, mágico, maravilhoso, num clima espiritual e de tal forma que sempre tomamos providências imediatas para sanar o erro e melhorar-nos. É impossível beber o chá e continuarmos cometendo os mesmos erros, desatinos e “pecados” de sempre! O chá mostra-nos a verdade sobre nós mesmos, tal como somos realmente, não como nos imaginamos ser. O chá não nos engana, não nos ilude. É um espelho límpido e cristalino, que não deforma as imagens nele refletidas... Quando o bebemos, vemo-nos a nós mesmos, não o nosso corpo, mas nossa alma! Nossa psique! É necessário dizer que no outro dia de manhã fui correndo ao dentista iniciar um tratamento! Alguns dias depois já podia sorrir tranquilamente, pois meus dentes voltaram a sua brancura natural e agradável aos olhos.
Abel Fernandes




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Foto Abel- - Flor da floresta amazônica - Porto Velho







Foto Abel - Araraquara








Foto Abel - Araraquara









Foto Abel - Araraquara










Foto Abel - Araraquara











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Foto Abel - Porto Velho














Foto Abel - Porto Velho















Foto Abel - Porto Velho










quinta-feira, 14 de junho de 2007

Fotos de Abel Fernandes.
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O PLANETA LÚTILUS
.
No planeta Lútilus
o céu é lilás...
As nuvens são douradas.
A terra é transparente,
como vidro,
e as folhas das plantas
prateadas...
.
Algumas, porém, são cor de cobre,
outras niqueladas
e outras são de um metal estranho,
desconhecido,
cor de mosquito e besouro
multicoloridos.
.
O mar é de silêncio verde.
As flores são de luzes multicores...
As pessoas e os animais
são como vibrações magnéticas, eletrônicas,
e movem-se rápidas como relâmpagos...
.
No planeta Lútilus
a música é feita de
lindas catedrais
de cristais
dançantes...
.
No planeta Lútilus
o silêncio é de jade,
a água é feita de saudade
e o alimentovem diretamente
de doze luas
suspensas no infinito.
.
No planeta Lútilus
não existe o feio
Só o bonito
.
No planeta Lútilus
o tempo é tão rápido
e diferente
que a genteviaja nele
num piscar de olhos...
.
De vez em quando,
se as coisas ficam pretas por aqui,
vou correndo para o planeta Lútilus.
.
Basta apenas uma piscada!
Quando volto de lá
sinto-me renovado,
rejuvenescido
e restaurado...
.
Como é bom visitar o planeta Lútilus!
.




amanhece
a aranha tece
e destece
---
na noite,
nua,
a lua flutua
---
a tarde
arde
sem alarde
---
na novela
a bela
se revela



um dia o amante
deu a amante
um diamante
---
maravilhosa
é a rosa
cor-de-rosa
---
escasso
é o espaço
do compasso


espalho
o baralho
no assoalho
---
brilhante
é o semblante
do diamante
---
no oriente
o sol nascente
é mais quente


Depois da chuva em Araraquara
.
***
a cartomante
vê na carta
o amante
---
Viver é ouvir e ver...
---

Por trás dos teus olhos teu passado te espreita!...
---
O futuro dorme em mim. Preciso acordá-lo urgente!...
---
Tem duas caras
o presente,
uma olha para trás,
e a outra para frente!


Flor de Porto Velho






Flor de Porto Velho









Araraquara








Araraquara









Araraquara
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O inventor adormeceu
e sonhou
que inventava o dia...
...
O homem estava tão feliz com a certeza!
Aí veio a dúvida
e estragou tudo!
...
Poetas!
Não deixem os poemas
soltos ao vento;
eles poderão cair
nas mãos dos geômetras!...
...
Mal o poeta derramou sobre o papel
o seu poema
e ele voou
como uma quimera azul...
...
Por causa de um minuto de tolice
a moça jogou fora
uma vida inteira
de felicidade...